sábado, 6 de novembro de 2010

Uma segunda-feira


Tem um cara, aqui na minha rua, que toda a madrugada lá pelas duas, ouço ele cantar, não sei bem o que, mas me vem como um amontoado de sons melódicos indefinidos, nada muito complexo, simples, mas cheios de vontade. Acho que ele passa de bicicleta porque quando a música vem, até eu chegar na janela aqui do quarto, o cantarolar já tá la na frente, e ele junto provavelmente, se não for nenhum ser místico que só eu escuto toda noite, como se fosse uma espécie de chamado sei lá para o que e pra onde. Nunca consegui chegar a janela a tempo de poder ver quem é esse ser cantante solitário. Só me resta alguns pensamentos. 

Cantador noturno, menestrel sobre rodas, que história tu carregas? Quais fardos pesados suportas diariamente? Que será que pensas disso e daquilo, do amor e da miséria, do homem e seu mundo infinito? Há amor na miséria ou é tudo uma tragédia? Saberias me responder qual a maior coisa pelo que lutar enquanto vivo? E se tu fores a pessoa mais feliz entre todas as pessoas mais felizes? Talvez, quem sabe, só te restou o canto solitário madrugador pelas ruas, pois és a pessoa mais triste do mundo e nada mais resta a fazer senão cantar, para si mesmo, ou para perdidos como eu.

Por mim, só te peço, faça o que achar que deve ser feito, cante o que deve ser cantado, enquanto chove ou sob estrelas, o momento é um, o tempo é esse, o que disserem para ti sobre outros ignores, é mentira, nada mais que mentira, e a mentira está em todos nós, porque nos denominamos Homens, a sós.

Amor

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Éramos vivos

"A absoluta simplicidade e o despojamento da vida que o homem levava nos tempos primitivos tinham pelo menos a vantagem de deixá-lo ser hóspede da natureza. Quando se sentia retemperado pelo alimento ou pelo sono, tinha a estrada novamente diante de si. Morava neste mundo como se fosse numa tenda e estava sempre palmilhando vales, cruzando planícies, galgando cumes de montanhas. Mas vejam só! Os homens se transformaram nos instrumentos dos seus instrumentos. Aquele que na maior liberdade apanhava os frutos nas árvores quandos sentia fome, tornou-se agricultor; o que se deixava ficar debaixo de uma árvore por abrigo, virou caseiro. Não mais acampamos por uma noite, mas nos instalamos na terra esquecidos do céu." 
Henry David Thoreau

 
Dominguinhos, um ermitão que tem como morada uma caverna há mais de 25 anos em Itambé do Mato Dentro, MG.